segunda-feira, 16 de novembro de 2009

Recuperando a gentileza


A gentileza fala do que existe de melhor na espécie humana. E o que existe de melhor na espécie humana é fácil de conseguir. Com a gentileza, acreditem, a gente fica gente.

Moacyr Scliar

Para a maioria das pessoas, a palavra gentileza significa uma postura elegante, refinada, coisa de elite. A gentileza seria a prática corrente do gentil-homem, um termo antigo para designar aristocrata, e tão exclusivo que nem permitia uma versão feminina: alguém aí já ouviu falar de gentil-mulher?

Prefiro pensar em gentileza de forma diversa. Prefiro pensar em gentileza como coisa de gente. Gente, no sentido mais elevado do termo. Aquele sentido que usamos quando dizemos: "Fulano é gente". Ser gente é importante. Ser gente é viver a condição humana com generosidade, com altruísmo, com elegância. E a decorrência lógica deste modo de vida é a gentileza.

Mas do que falamos quando estamos falando em gentileza? Estamos falando, em primeiro lugar, de coisas simples, de pequenos gestos. Exemplo clássico: dar lugar no ônibus. Para uma pessoa idosa, para uma grávida, para uma mulher. Aparentemente é fácil de fazer. Aparentemente deveria ser uma iniciativa espontânea. Não é. Os ônibus têm um aviso lembrando que alguns assentos estão destinados preferencialmente a essas pessoas. Mas nem todos os passageiros dão bola para o aviso. Nem todos os passageiros são gentis. Gentileza, ao contrário da taxa de juros, é algo que está em baixa. E por que está em baixa?

Em primeiro lugar, porque gentileza se traduz exatamente em coisas como esta, em abrir mão de uma situação de vantagem, em dar o lugar. E dar o lugar, qualquer que seja este lugar, é uma iniciativa que poucos tomam. Compreensivelmente, porque a regra em nosso mundo é ocupar lugar, não dar lugar; a regra é a pessoa conseguir o seu próprio espaço, é abrir caminho usando os cotovelos, se for o caso. Ou seja, a lei da selva adaptada ao convívio urbano - ironicamente, porque urbanidade implica gentileza.

Mas há uma atitude pior: negar a gentileza em nome de uma pretensa igualdade. As mulheres não queriam ser iguais aos homens? Então, que fiquem de pé nos ônibus. Como os homens.

É um raciocínio ao qual não falta uma certa lógica. O que falta a este raciocínio é outra coisa. É serenidade (substituída, não raro, por um maldisfarçado rancor). É generosidade. E as pessoas não renunciam à serenidade e à generosidade sem pagar um preço elevado.

Quando deixamos de dar o lugar, deixamos de dar. De novo, isto pode ser encarado com cinismo. As palavras de São Francisco, "é dando que se recebe", são usadas, sobretudo na política brasileira, como sinônimo de arreglo, de barganha, de toma-lá-dá-cá. É o princípio que preside ao loteamento de cargos. Cargos, como se sabe, representam lugares privilegiados, pelos quais muita gente luta encarniçadamente.

Isto é o raciocínio primário. A pessoa que ultrapassa esse raciocínio sabe que dar o lugar beneficia enormemente aquele que vai ficar de pé. Porque, ficando de pé, ele se torna gente. Ele cresce, figurativamente falando. Ele se destaca entre os demais. O cara que dá o lugar no ônibus é olhado pelos outros. É olhado com respeito, quando não com inveja. A gentileza fala do que existe de melhor na espécie humana. E o que existe de melhor na espécie humana é fácil de conseguir. Com a gentileza, acreditem, a gente fica gente.

Fonte: Carta Maior - Arte & Cultura| 08/12/2006 | Copyleft

sábado, 14 de novembro de 2009

Dicas para escrever bem!

Agora não tem desculpa...

1. Vc. deve evitar abrev., etc.

2. Desnecessário faz-se empregar estilo de escrita demasiadamente rebuscado, segundo deve ser do conhecimento inexorável dos copidesques. Tal prática advém de esmero excessivo que beira o exibicionismo narcisístico.

3. Anule aliterações altamente abusivas.

4. não esqueça das maiúsculas", como já dizia dona loreta, minha professora lá no colégio alexandre de gusmão, no ipiranga.

5. Evite lugares-comuns assim como o diabo foge da cruz.

6. O uso de parênteses (mesmo quando for relevante) é desnecessário.

7. Estrangeirismos estão out; palavras de origem portuguesa estão in.

8. Chute o balde no emprego de gíria, mesmo que sejam maneiras, tá ligado?

9. Palavras de baixo calão podem transformar seu texto numa bost@.

10. Nunca generalize: generalizar, em todas as situações, sempre é um erro.

11. Evite repetir a mesma palavra, pois essa palavra vai ficar uma palavra repetitiva. A repetição da palavra vai fazer com que a palavra repetida desqualifique o texto onde a palavra se encontra repetida.

12. Não abuse das citações. Como costuma dizer meu amigo: "Quem cita os outros não tem idéias próprias".

13. Frases incompletas podem causar...

14. Não seja redundante, não é preciso dizer a mesma coisa de formas diferentes; isto é, basta mencionar cada argumento uma só vez. Em outras palavras, não fique repetindo a mesma idéia.

15. Seja mais ou menos específico.

16. Frases com apenas uma palavra? Jamais!

17. A voz passiva deve ser evitada.

18. Use a pontuação corretamente o ponto e a vírgula especialmente será que ninguém sabe mais usar o sinal de interrogação

19. Quem precisa de perguntas retóricas?

20. Conforme recomenda a A.G.O.P, nunca use siglas desconhecidas.

21. Exagerar é cem bilhões de vezes pior do que a moderação.

22. Evite mesóclises. Repita comigo: "mesóclises: evitá-las-ei!"

23. Analogias na escrita são tão úteis quanto chifres numa galinha.

24. Não abuse das exclamações! Nunca! Seu texto fica horrível!!!

25. Evite frases exageradamente longas, pois estas dificultam a compreensão da idéia contida nelas, e, concomitantemente, por conterem mais de uma idéia central, o que nem sempre torna o seu conteúdo acessível, forçando, desta forma, o pobre leitor a separá-la em seus componentes diversos, de forma a torná-las compreensíveis, o que não deveria ser, afinal de contas, parte do processo da leitura, hábito que devemos estimular através do uso de frases mais curtas.

26. Cuidado com a hortografia, para não estrupar a língüa portuguêza.

27. Seja incisivo e coerente, ou não.

Fonte: http://www.mdig.com.br/index.php?itemid=1309

quarta-feira, 11 de novembro de 2009

A diferença entre homens e mulheres

Pra acabar com um longo jejum sem novidades no blog.


Digamos que um homem chamado Paulo esteja atraído por uma mulher chamada Elaine. Ele a convida para ir ao cinema; ela aceita; e eles passam uns bons momentos juntos.

Alguns dias depois ele a convida para jantar, e novamente eles adoram a companhia um do outro. Eles continuam se vendo regularmente e logo nenhum deles está saindo com outra pessoa.

E então, numa noite, eles estão retornando de carro para casa dela, e Elaine tem um pensamento. Sem pensar muito ela diz alto:

- Você percebeu, que, como hoje, nós estamos saindo juntos há exatamente seis meses?

E então há aquele silêncio no carro. Para Elaine, parecia uma eternidade. E logo ela pensa com ela mesma: (Que burra! Eu tinha que fazer este comentário logo agora? Isto pode ter chateado ele. Talvez ele esteja se sentindo preso pelo nosso relacionamento; talvez ele pense que eu o esteja pressionando para um compromisso que ele ainda não quer, ou ainda não está bem seguro disso.)

E Paulo está pensando: (Puxa! Seis meses!)

E Elaine pensa: (Hei! Mas eu também ainda não estou certa de querer este tipo de relacionamento. Às vezes eu penso que seria melhor eu conservar o meu espaço, eu tenho que pensar se eu quero continuar avançando nesta direção, e saber para onde estamos indo? Vamos continuar nos vendo um ao outro neste nível de intimidade? Estamos caminhando na direção de um casamento? De filhos? Enfim, de uma vida longa juntos? Estarei eu pronta para este tipo de compromisso? Eu realmente conheço esta pessoa?)

E Paulo está pensando: (Então isto significa que foi ... vejamos ... Fevereiro, quando nós começamos a sair juntos foi exatamente quando eu comprei este carro na concessionária. Isto significa ... Deixa eu conferir o velocímetro ... Puxa! Eu já passei da quilometragem para a revisão dos 5.000 Km.)

Elaine está pensando: (Ele está preocupado. Posso ver na sua face. Talvez eu devesse ter ficado com a boca fechada. Talvez ele queira mais do nosso relacionamento, mais intimidade, mais cumplicidade; talvez ele tenha sentido - mesmo antes de eu sentir - que eu estava me reservando demais. Sim, eu aposto que é isso. É por isso que ele está tão relutante em dizer alguma coisa sobre seus sentimentos. Ele está com medo de estar sendo rejeitado.)

E Paulo está pensando: (Eu preciso levar o carro para eles verem esse barulho na transmissão novamente. Não importa o que eles dizem, o barulho diminuiu, mas continua. Eles vão dizer que o motor está amaciando. Mas que amaciando? Com 5.000 KM? É melhor eles nem tocarem nisso. "Amaciando" era para os motores de 30 anos atrás... Estamos quase no ano 2000, e este carro está fazendo um barulho como se fosse um caminhão de lixo. E eu paguei R$ 22.000,00 àqueles ladrões por este carro.)

E Elaine está pensando: (Nossa! Ele está mesmo zangado e eu não o culpo. Eu estaria também zangada. Deus, eu me sinto tão culpada, colocando-o na parede desse jeito, mas a maneira como me sinto não vai ajudar em nada. Só que eu não estou muito certa....)

E Paulo está pensando: (Eles provavelmente vão dizer que o carro agora está fora da garantia. Isso é exatamente o que eles vão dizer, aqueles salafrários. Na hora de vender eles prometem tudo. Agora.....)

E Elaine ainda pensa: (Talvez eu seja muito idealista esperando por um cavaleiro montado em um cavalo branco, enquanto eu estou sentada ao lado de uma pessoa boa, uma pessoa com quem eu gosto de estar, uma pessoa com quem eu me sinto bem, uma pessoa que parece verdadeiramente se interessar por mim, e que está chateado agora devido ao meu egoísmo, sonho de meninice, e de fantasia romântica.)

E Paulo está pensando: (Garantia? Eles querem garantia? Eu dou esta maldita garantia. Eu vou pegar esta garantia e falar para eles para enfiarem...)

- Paulo - fala Elaine alto.
- O que? - diz Paulo.
- Por favor, nao se torture com isso! - diz ela, seus olhos começam a brilhar com lágrimas - Talvez eu não devesse ter comentado... OHH! Eu me sinto tão ...

Elaine para e soluça.

- O que? - diz Paulo, preocupado em tentar relembrar algo que ela tivesse dito e que ele não tivesse prestado atenção.

- Eu sou tão tola - Elaine soluça - Eu quero dizer, eu sei que não há nenhum cavaleiro. Eu sei realmente. Que Tolice. Nao há cavaleiro e nao há nenhum cavalo.

- Nao há nenhum cavalo? - diz Paulo.
- Voce deve pensar que eu sou uma tonta, nao é? - diz Elaine.
- Não! - diz Paulo, feliz por finalmente saber uma resposta correta.
- É somente... É somente que ... Eu preciso de algum tempo - diz Elaine.

(Passam-se uns 15 segundos até que Paulo, tentando pensar tão rápido quanto podia, pudesse achar uma resposta segura. Finalmente ele vem com uma que ele pensa que pode dar certo. Afinal não queria revelar que não estava entendendo sobre o que ela estava falando).

- Sim - diz ele.

(Elaine, profundamente comovida, toca a sua mão.)

- OH , Paulo, você realmente sente desse modo? - diz ela.
- Sobre o que? - diz Paulo.
- Sobre o tempo - diz Elaine.
- OH - diz Paulo - Sim.

(Elaine vira o rosto dele para ela e olha em seus olhos, causando nele um certo nervosismo sobre o que ela poderia falar em seguida, especialmente se envolvesse um cavalo).

Por último ela fala.

- Obrigada, Paulo. Você é maravilhoso - diz ela.
- Obrigado, você tambem - diz Paulo.

Então ele leva ela para casa, e ela deita em sua cama, e conversa com sua torturada alma, e se vira pra lá e pra cá, até altas horas na madrugada enquanto Paulo, volta para seu apartamento, abre um pacote de batatas fritas, liga a TV, e comeca a ver o replay de um jogo de tênis de dois jogadores tchecoslovacos que nunca havia ouvido falar antes. Uma voz no fundo da sua mente lhe dizia que poderia haver algo mais sério relacionado com o barulho que ele estava tendo no carro, mas ele nao podia deduzir nada. Nao entendia nada de mecânica. Então era melhor não pensar mais nisso...

No dia seguinte, Elaine telefonará para sua melhor amiga, ou talvez duas delas, e elas conversarão sobre esta situação por seis horas sem parar. Elas analisarão, em detalhes tudo que ela falou, o que ele disse e revisarão muitas vezes, explorando cada palavra, expressão, e gestos para entender as nuances, e considerando cada possível ramificação. Elas continuarão discutindo este assunto muitas vezes, por semanas e meses, nunca chegando a uma conclusão definitiva, mas nunca se enchendo de tocar no assunto.

Neste meio tempo, um dia, Paulo, enquanto joga tênis com uma amiga comum dele e da Elaine, faz uma pausa antes de tomar um copo de água e pergunta:

- Cristina, a Elaine tem algum cavalo?

(texto de autor desconhecido)