Maria, a copeira, diligentemente posicionava os talheres e xícaras sobre a mesa para mais um café da manhã em Cuzco. A cena já era conhecida, mas naquela manhã gelada, quase madrugada, a ansiedade era maior, pois aquele seria o primeiro dia da trilha Inca, a caminho de Machu Picchu, no Peru.
Calado, ansioso, reservava-me a beber o café quente e perfumado e imaginar como me sairia em mais uma aventura rumo ao desconhecido, tentando disfarçar o nó que estava apertando o meu estômago, quase me fazendo enjoar.
Penso que as longas caminhadas, como essa, são sempre um motivo de autoconhecimento, pois, o medo de dar alguma coisa errada está sempre presente e temos uma tendência a menosprezar (e mesmo desconhecer) nossas capacidades.
Em 2001, quando fiz pela primeira vez uma caminhada de vários dias, o Caminho de Santiago de 780 Km, também fiquei muito apreensivo, quase em pânico, durante toda a fase preparatória e ao longo dos primeiros dias de caminhada.
Você fica achando que não vai ter força, ou resistência ou mesmo saco pra enfrentar os longos quilômetros que terá pela frente, muitas vezes desfrutando apenas de sua própria companhia, seus pensamentos, suas neuras.
Todos os que fazem este tipo de aventura devem conhecer um pouco este frio na barriga de que estou falando.
Os dias, no entanto, vão passando e a coisa toda vai ficando mais digerível. Suas pernas avançam confiantes pelas estradas e trilhas, as dores e o medo já não são as coisas que mais preocupam. Agora, a iluminação para as fotos, a temperatura da água do rio para o banho ou a chuva, são os problemas que necessitam de atenção imediata. Suas pernas ficam em segundo plano e normalmente não decepcionam.
Venha desfrutar deste mundo e conhecer a pessoa totalmente desconhecida que está adormecida dentro de você.
Logo, você deixará de pensar que estas pessoas são malucas ou masoquistas e perceberá que as longas caminhadas são como um bálsamo para a alma.
Meu Amor pelas caminhadas, quase um vício, não dá sinais de que vai acabar tão cedo. É possível que minhas pernas acabem antes. Todo ano, sinto que um eu interior, pouco conhecido, me chama para mais uma loucura deste tipo...
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