sexta-feira, 10 de abril de 2009

ESTRADA REAL 2006

ESTRADA REAL 2006

Então chega um momento em que você se acha invencível.

Os caminhos vão se multiplicando. Todo ano um caminho novo é trilhado! Muita poeira, muitas bolhas nos pés, muitas cervejas bebidas à beira da estrada.

Já adquiriu tanta experiência na estrada que subestima todos os caminhos como se fossem apenas mais uma caminhada até a padaria.

Então a Estrada Real entrou em nossa vida.

Ora, seriam apenas mais 400 e poucos quilômetros entre Diamantina e Ouro Preto a mais na nossa lista. Nem sequer seria necessário compra uma bota nova para a empreitada, ainda que a minha, com 5 anos de uso já estivesse rota.

Partimos para Diamantina numa viagem complicada que envolveu avião e ônibus e uma logística apertada de horários. Ainda bem que foi antes da crise aérea que assolou o país logo em seguida.

Chegar de madrugada em uma cidade, debaixo de um aguaceiro, sem ter ninguém esperando, ou sequer uma reserva em algum hotel é uma sensação que todos deveriam ter alguma vez na vida. Você desce do ônibus e fica olhando em volta sem saber exatamente o que fazer.

A sensação é de liberdade, eu diria. Não há preocupação com o seu carro estacionado na rua, ou com aquele relatório que você terá que apresentar no trabalho. Estas coisas mundanas que ocupam a maior parte do nosso tempo.

Por sorte um hotel simples em frente à rodoviária salvou nossos corpos cansados de uma noite deitado num banco. Aliás, toda rodoviária tem um hotel na frente, o que diminui um pouco a sensação de abandono no começo da caminhada.

Diamantina é uma cidade que merece ser visitada, embora nossa meta fosse trilhar a Estrada Real. Assim, ficamos um dia inteiro por lá antes de iniciar a empreitada.

Nossa sorte foi que chegamos na cidade numa sexta feira e pudemos desfrutar no sábado de tudo o que a cidade tinha a oferecer em termos de diversão. Serenatas, vesperatas (seja lá qual for o nome que eles dão ao evento), torresminho com mandioca na praça central, regada a cerveja gelada e a uma autentica, e deliciosa, cachaça mineira.

Até agora só alegria. Um começo fantástico!

Mas a caminhada se revelaria um autêntico desafio à nossa força de vontade. A Estrada Real deve ter sido planejada para motoqueiros e jipeiros, já que as distâncias são aproximadas. Algo assim como marcar a distância entre as duas cidades sem levar em conta o espaço existente entre o hotel ou pousada e o limite do município.

Então, teve dias em que nossa planilha de distância marcava 22 Km, mas, não chegávamos ao destino nunca, chegando a percorrer 6, 7 Km a mais do que o planejado. Isto deixa a gente bem “pra baixo”, pra dizer o mínimo.

Some-se a isto a completa, ou quase completa, inexistência de infra-estrutura para pedestres entre as cidades. Nenhum bar, poucas casas (e todas vazias).

Para contribuir ainda mais com o desastre, choveu quase todo o dia, o dia inteiro, fazendo com que sequer tivéssemos um local para sentar e descansar em que não tivesse lama.

A bota, já desgastada, não agüentou muito tempo a empreitada. Perdeu a sola no terceiro dia. Mas já antes de estourar de vez, foi suficiente para estourar os pés, já que a gente acaba pisando tudo torto pra tentar evitar o inevitável.

E para achar uma bota decente pra comprar nas cidades pequenas onde passamos? Pior é que achei uma bem honesta, só que amaciar uma bota de caminhada na caminhada é de lascar.

A coisa começa a sair do campo da diversão para entrar no campo do sofrimento.

Então a gente começa a ficar mais condescendente e acaba abrindo alguns precedentes inimagináveis dias antes. Um onibuzinho aqui, um taxizinho ali. E onde passa um boi, passa uma boiada.

O golpe de misericórdia aconteceu em Morro do Pilar. Depois de um dia inteiro andando debaixo de chuva, com lama até o pescoço, chegamos nesta cidade. Uma pousada muito feia, suja, com atendentes desinteressados. Dos carrapatos melhor não falar.

Resumindo a história, às Favas com a Estrada Real. Pela manhã, ainda debaixo de uma chuva gigante, descobrimos que tinha um ônibus que saia para Belo Horizonte em 1 hora. Depois de uma reunião em que todos queriam apanhar o ônibus, mas ninguém queria ser o responsável por jogar a toalha, decidimos pelo ônibus.

A partir de então a coisa virou turismo. Carro alugado em BH e viagem a Ouro Preto como turistas convencionais.

Sem preconceitos, a coisa foi muito divertida e gostaria de repetir a dose um dia desses.

Nenhum comentário:

Postar um comentário