quarta-feira, 8 de abril de 2009

Pico Paraná 2006

Saibam quantos desta lerem, que aos 22 dias do mês de julho de 2006, partiram rumo ao Pico Paraná 8 intrépidos aventureiros.

A aproximação à base da montanha ocorreu sem maiores incidentes exceto pela marcação, nos instrumentos de navegação da viatura de transporte de troupe, de uma temperatura de apenas 2,5° Celsius (congelante).

Após estacionarmos nas aconchegantes dependências da fazenda Bruno, iniciamos a subida levantando poeira na estreita trilha e fazendo uma ventania capaz de balouçar a copa das mais altas árvores, deixando os tucanos do local de bico caído.

Seguimos em ritmo alucinante até a encosta do Caratuva, disputando com unhas e dentes a posição de líder da expedição.

Com algumas poucas paradas para apreciar a natureza luxuriante do local (não que estivéssemos cansados), decidimos mandar um batedor à frente para reservar lugar nos melhores points do campo 2, onde pretendíamos passar a noite. Cautela necessária porque o local mais parecia o balneário de Ipanema em pleno carnaval, de tanta gente que tinha por lá.

Pouco antes do Campo 1 abastecemos nossos cantis numa fonte de água alcalino terrosa (mais terrosa que alcalina) o que nos faria lembrar amargamente deste momento ao longo de todo o dia seguinte.

Descemos a encosta do Caratuva com muita facilidade, graças ao nosso excelente preparo físico, tendo deixado para trás, inclusive, um grupo da terceira idade do Asilo São Vicente.

Tudo correu muito bem até a chegada das escadinhas de ataque na base do campo 2. Ali, tivemos que fazer a ancoragem de um de nossos destemidos colegas, com pânico de altura, já que seria pior carregá-lo no colo, caso desmaiasse em virtude das vertiginosas altitudes a que seríamos expostos.

Não teria sido nenhum problema se a certa altura, ao rebocarmos sua mochila com a corda, não tivesse arrebentado a alça da mesma fazendo com que despencasse morro abaixo com ensurdecedor estardalhaço. A mochila foi prontamente salva por um corajoso colega que, com risco da própria vida, botou a canela no caminho da mochila desgovernada.

Após o primeiro lance de escadinhas fomos ultrapassados por um casal de alpinistas. A visão da subida deste casal, mais especificamente da garota, singelamente chamada Juju, provocou uma reação inusitada no nosso colega com medo de altura, que o fez galgar os degraus finais sem sequer se preocupar com a corda de ancoragem, deixando marcas de suas unhas no artefato mineral que nos sustentava naquele momento, bufando e babando feito um pitbull.

Em seguida, chegamos em segurança no campo 2, onde éramos aguardados pelo nosso eficiente batedor, com as barracas já praticamente armadas, e o café borbulhando no bule. Bem, menos um pouco. Na verdade ele estava deitado numa sombra fumando um cigarro.

Notável neste momento somente o fato de que acamparam ao nosso lado um grupo de “táligados”. Para quem não conhece tal animal, basta dizer que assemelham-se imensamente com galinhas da angola, só que em vez de ficarem repetindo à exaustão “to fraco”, eles repetem “tá ligado?”.

Durante nosso aprazível relaxamento (à base de cachimbadas, narguilezadas, whisky, conhaque, ais e uis) pudemos planejar como seria o ataque ao cume na manhã seguinte.

Nos divertimos muito durante a madrugada ouvindo os inúmeros tons de ronco provenientes de todas as barracas, indistintamente. Nosso batedor conseguiu a proeza de roncar acordado. Coisa de profissional! Também ouvimos muitos “táligados” chorando a perda das barracas em virtude da alucinante brisa fresca que soprava no local.

A temperatura no local estava muito agradável. Uma média de 20° Celsius (40º de dia, 0º à noite).

A alvorada deu-se às 5:00 da manhã, depois de uma confortável noite de sono relaxante e recuperador. Após um lauto café da manhã partimos para o ataque final ao cume, de 1962 metros. Afinal, só cume interessa!

Nesta etapa, amarelaram alguns membros de nossa equipe com as desculpas mais esfarrapadas possíveis, que iam desde cuidar do acampamento até dores nas costas.

A subida foi muito tranquila, marcada apenas pela perda de vários bonés em virtude do alucinante vento que soprava no local.

O cume estava muito lindo, como todo cume!

A volta ocorreu sem maiores incidentes, exceto pelos resultados da utilização de água alcalino terrosa na véspera. Diversos aventureiros foram obrigados a libertar seus amigos mais íntimos nas cercanias de nosso acampamento. Felizmente deixamos o local logo em seguida.

Depois, já na trilha, um de nossos alpinistas, deixou sua marca na Serra da Ibitipoca. Adiantou-se um pouco do restante do grupo e momentos após, só ouvimos o tremor na terra provocado pela liberação do material. O odor nos acompanhou por horas durante a trilha (e até agora está difícil de esquecer).

Seguiram-se vários episódios de visita aos prazeres do banheiro ao ar livre, Alguns com tal urgência que mal deu para afastar-se da trilha, de modo que alguns acabaram sendo flagrados por outros campistas, literalmente com as calças na mão. Muito depois, ainda ouvíamos o relato dos grupos comentando que tinham visto um animal pequeno, com cerca de 1 metro de altura, com a cara rachada e muito branca e que parecia estar fumando um charuto. Melhor deixá-los na inocência! A esta altura, vários colegas já estavam usando lenços umedecidos no lugar do papel.

Perto do fim de nossa aventura, Nosso magnífico e debilitado grupo já se queixava até de dor no cabelo. Mas tudo recompensado pela magnífica sensação de ter conseguido voltar para casa sem maiores danos.

- “Foi um tesão de fim de semana!!!”

Confira as fotos...

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